Cozinha da Matilde

Arroz com costelinha de porco e bananas fritas em duas versões!

Essa receitinha aqui é um clássico de família, na verdade, trata-se de uma versão da galinhada, mesmo modo de fazer, só troca a carne que aqui é costelinha de porco. Eu adoro, faço sempre, pois em que pese parecer uma receita complexa, é muito fácil, da categoria receitas portentosas de uma panela só!

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Anos atrás, eu publiquei uma versão da receita em forma de crônica (que vc lê ao final do post) em uma revista eletrônica muito bacana, O Caixote, onde eu escrevia sob o singelo pseudônimo Selenita Telúrica.

Mas o fato é, que apesar de publicada na versão crônica, e dela sempre brilhar nas refeições aqui em casa, nunca tinha fotografado a bichinha antes para postar aqui como se deve. Eis que foi aniversário da minha sogrinha, a Eneida, e este foi o prato que ela me pediu para fazer de presente este ano (ano passado foram perdizes…), aí já aproveitei a deixa e fotografei a danada em grande estilo, com a panela coberta por uma camada de bananas fritas… ai meus sais… ficou bão demais, minha gente! :)

Vamos à receita?

receita

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Ingredientes – 4 porções

  • 1 kg de costelinha de porco
  • 3 xícaras de arroz
  • 2 cebolas médias brunoise
  • 5 dentes de alho brunoise + 6 dentes inteiros com casca e tudo
  • 3 colheres (sopa) de óleo
  • 3 pimentas bode em conserva
  • talos de salsinha finamente laminados
  • salsinha picadinha para polvilhar
  • 6 bananas da terra fritas em rodelas (opcional)

Modo de fazer

O segredo desta receita é a paciência na hora de dourar a carne de porco. Deve ser feito devagar, esperando a carne formar uma rapinha na panela e depois roubando a cor da rapa com o líquido, até que as costelinhas estejam cozidas e lindamente bronzeadas, da cor do pecado! ;-)

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1- Sue metade da cebola no óleo com uma pitada de sal. Acrescente metade do alho brunoise (reserve os dentes inteiros, com casca, para usardepois), as pimentas e os talos de salsinha para que também suem. Junte as costelinhas de porco e comece a dourá-las.

2- Assim que se formar uma rapa no fundo da panela, adicione um copo de água e com ele “limpe” a panela, roubando dela a cor. Deixe o líquido secar, formar nova rapa e então repita o processo e assim sucessivamente, até que toda a costelinha esteja cozida e com uma cor linda de se ver.

3- Junte então à panela o restante da cebola, misture bem para que também fique dourada e então acrescente o restante do alho brunoise e os dentes inteiros com casca (que ao final do cozimento ficarão cremosos e doces).

4- Hora do arroz ir prá panela: lave bem, retirando toda a goma, o que vai garantir arroz soltinho. Deixe que o arroz “roube” o bronzeado da carne e da rapa da panela.

5- Junte água fria até cobrir todo o conteúdo da panela (basta um dedo acima do conteúdo). Misture bem e ajuste o sal. Deixe ferver em fogo alto.

6- Quando o líquido secar e aparecerem os furinhos formados pelo calor, tampe a panela e abaixe o fogo ao mínimo. Se você tiver uma chapinha de alumínio ou ferro para colocar sob a panela ótimo! Quanto mais lento aqui, melhor.

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7- Quando o arroz estiver cozido (cerca de 15 a 20 minutos depois) polvilhe a panela com a salsinha picadinha e deixe descansar por cerca de 5 minutos antes de servir.

Cubra a panela com uma camada de bananas da terra fritas e sirva o prato acompanhando de uma saladinha de tomate com cebola e cheiro verde, temperada com limão e azeite, o que vai garantir acidez na medida certa para equilibrar a refeição!

Bom apetite!

Versão crônica – Publicada originalmente no O Caixote

Como eu disse, essa receita tem um outra versão, em formato de crônica, uma brincadeira minha com a costela do Adão, que acabou virando uma receita feminista, prá comer rezando e que vc confere agora.

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Essa receitinha, adaptada à gastronomia goiano-mineira, passada de geração para geração, remonta à infância da humanidade, isso se a senhora e o senhor tomarem por base o texto bíblico… É a vingança definitiva de Lilith e Eva sobre o boçal do Adão.

Cansadas de pecados, costelas, maçãs, serpentes e de toda a baboseira da versão unilateral de Adão sobre o paraíso e decididas a colocar, de uma vez por todas, os pingos nos “is”, mesmo porque a tal versão oficial deve-se unicamente à boa relação de Adão com a imprensa, em um ritual quase catártico Lilith e Eva criaram, executaram e se lambuzaram com um “celestial” arroz com costelinhas de porco… de comer de joelhos!

Em uma panela de fundo grosso, de preferência de ferro, doure em pouquíssimo óleo – algo como uma colher de sobremesa – uma cebola de estatura mediana, cortada em cubinhos tão pequenos quanto sua habilidade permitir. Deixe reservada uma outra cebola cortada da mesma maneira para usar mais adiante.

Junte à cebola da panela um quilo de costelinhas de porco, não muito gordas e de preferência com muita carne, cortadas em pedaços de aproximadamente 10 cm de comprimento. No fogo médio, refogue a costelinha, misturando com paciência, em uma quase meditação, como quem entoa um mantra… Conforme a carne for grudando na panela pingue água e novamente misture, e pingue água e novamente misture, até que se obtenha a cor de bronze. Salgue, então, a gosto e junte a cebola reservada. Misture novamente para que a cebola nova roube, da costelinha, o bronzeado.

À parte, lave bem o arroz até sair toda a goma… Quanto arroz? Essa é uma pergunta deveras complicada… Vale a dica vinda de um restaurante de Paraty, um dos paraísos terrestres… Dois punhados cheios de arroz por pessoa e mais dois punhados cheios de arroz para a panela… Para a receita em questão Lilith e Eva aconselham aproximadamente 12 punhados, o que vai render cinco porções.

Mas a prova final fica mesmo por conta do olho bom do senhor ou da senhora, o tanto certo de arroz para essa receita é aquele que fica proporcionalmente adequado, só de olhar, à quantidade de costelinhas, nem menos nem mais. Quando cozido, o arroz deve envolver a costelinha que ficará imersa nele, sacou?!

Volte ao pas de deux da costelinha com a cebola e junte o arroz, também ansioso por dourar-se… Voilà: temos um perfeito ménage à trois! Para literalmente apimentar ainda mais a história, junte três pimentas dedo-de-moça, frescas e inteiras, e uma pimenta bode, em conserva, sem amassar. Misture mais um bocadim e junte água suficiente para cobrir a mistura. Prove o sal, misture mais um pouco e deixe ferver em fogo alto.

Quando a água estiver quase seca e aparecendo os furinhos formados pelo calor no arroz, tampe a panela e abaixe o fogo ao mínimo. Se tiver uma chapa de ferro ou alumínio coloque sob a panela. Passados uns minutos experimente para ver se a água secou totalmente e se o arroz já está cozido. Polvilhe com salsinha, desligue o fogo e deixe descansar mais uns cinco minutos. Pratique, então, aquele delicioso pecado capital…

Mais uma dica: na minha terra, comemos esse prato acompanhado por uma saladinha de tomate cortado em rodelas finas, cebola, cheiro verde e pimenta, temperada com limão, sal e azeite. Para completar e deixar a refeição ainda mais portentosa: depois de pronto, antes de servir, cubra o arroz com uma camada de bananas-da-terra fritas em rodelas… Ai, ai, ai…

Lilith e Eva colocariam na salada umas fatias de maçã…

Harmoniza com…

para beber

por
marcelo pedro

Com a costelinha de porco, que tal um tinto português da Bairrada, terra do famoso leitão?

A região Bairrada DOC possui solo argiloso, daí o nome bairrada. A principal casta de tintos é a uva baga, que deve compor ao menos 50% do assemblage, juntamente como outras variedades, como Touriga Nacional, Alfrocheiro, Aragonez e Castelões (Periquita). 

Minha sugestão são dois vinhos do Luiz Pato. O tinto Luis Pato Baga + Touriga nacional, é um vinho rubi, sem passagem por madeira, com taninos finos, uma boa pedida com carnes vermelhas. O outro é o Vinhas Velhas, feito com uvas da casta Baga de videiras de ao menos 40 anos, fermentadas por 10 dias em tanques de aço inoxidável e envelhecido 12 meses em barris de carvalho. Tem maior complexidade e estrutura para acompanhar carnes de sabor mais intenso, como carne de caça. Como já disse anteriormente, o Luis Pato foi responsável por renovar os vinhos da casta baga da Bairrada, com técnicas mais modernas de vinificação, mas mantendo a tradição da região.

Vinho da bairrada e porco, combinação de lamber os dedos! Saúde!


para ouvir

por
marina novaes

Para o arroz com costelinha, comidona cheirosa, gostosa, bonita e fácil de fazer, eu recomendo ouvir Fadas, do Luiz Melodia.

Eu sou super fã deste carioca, que sempre cruzo no fim de noite no Tako (quer dizer, só fui lá duas vezes tardão da noite, mas ele estava lá nas duas. Quis gritar “Negro gato”, mas meus amigos com um pouco mais de juízo do que eu, me seguraram). Já fui em vários shows dele, e sempre que discoteco não deixo de tocar música de sua autoria.

Suas letras são cheias de ginga, embaladas por MPB, rock, blues e samba. Pérola Negra, gravada por Gal Costa, é um exemplo que o conjunto interpretação-letra-música vira super poesia!

E Fadas é também poesia só. Embalada pela crônica da receita, escrita pela Let/Selenita, para sustentar uma costela de adão, e tantas outras coisas, é preciso ser leve….fadas!