Cozinha da Matilde

Gostoso demais #1 – Café com rapadura

Essa série saiu das minha andanças pelo Brasil comendo a comida local. Queria trazer pra cá, através de imagens, um pouquinho do que as pessoas comem e como elas comem pelo país afora.

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Comidas que se repetem, como a macaxeira com carne de sol, hit no nordeste inteiro, ou a abacatada que brasileiros de norte a sul gostam. Outras bem específicas de uma região, como o bolinho caipira do Vale do Paraíba.

E ainda as que se repetem mas são consumidas de maneira diferente em cada lugar, como o açaí, que no sul e sudeste se come com granola e frutas, no Marajó se come na merenda com farinha de tapioca, em Belém com peixe frito, e com camarão seco e farinha no Maranhão, sendo que aí, ainda, em lugar do açaí se come a juçara.

Todas elas comidas de encher a boca d’água. E se a gente é mesmo o que come, só posso dizer que nós, brasileiras e brasileiros, somos DELICIOSOS, porque o Brasil é gostoso demais!

Algumas fotos são de receitas já publicadas aqui, mas a maior parte delas foram clicadas pelas feiras, mercados e restaurantes que passei.

Bom apetite e pode puxar um banquinho, que eu vou começar com um cafezim e um dedo de prosa.

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Mais que uma bebida, o cafezinho é um “abridor” de conversa, a maneira brasuca de acolher e se aproximar do outro. Quando precisamos falar com alguém a gente senta pra um café, quando recebe visita a gente serve um café e quando quer se encontrar com amigos a gente marca um cafezinho.

O café é a bebida do encontro no Brasil. E como somos um povo altamente sociável, tomamos café o dia inteiro. Começamos com uma generosa chávena pela manhã e seguimos ao longo do dia de cafezinho em cafezinho para pontuar as conversas, os encontros e as pausas na rotina. Nossa vida é regada a café!

Há quem prefira um expresso e quem não abre mão de um coado, de preferência se for em coador à moda antiga, de pano. Tem gente que gosta puro pra sentir só o sabor do grão, mas a maioria gosta mesmo do seu café adoçado, com açúcar ou com o gostinho especial da rapadura.

A rapadura é o açúcar em estado bruto. Logo depois do ponto de melaço, a mistura é batida para açucarar e, então, moldada em forma de tijolos, perfeitos para armazenar. O dito popular diz que é “doce mas não é mole não”, e eu diria que é doce mas não é ruim não, uma vez que a rapadura – ao contrário do açúcar refinado – é nutritiva e seu emprego regular na alimentação combate a desnutrição. Não por acaso, integra a cesta básica e merenda escolar nos estados no Nordeste, os maiores produtores do país.

O açúcar branco, ao passar pelo processo químico de refino, perde suas propriedades restando apenas sacarose. A rapadura ao contrário,  é um alimento integral, cuja composição de açúcares, vitaminas e sais minerais é conservada durante o processo artesanal de produção (simples, pouco tecnológico e sem nenhum produto químico envolvido) e mantém assim seu valor nutritivo.

Santa Wikipédia contou que a danadinha também é doce mas não é só nossa não, com nomes diferentes a gente encontra em toda América Latina: panela (Colômbia, Venezuela, México, Equador e Guatemala), piloncillo (México), papelón (Venezuela e Colômbia), chancaca (Bolívia e Peru), empanizao (Bolívia) ou tapa de dulce (Costa Rica). O nome rapadura (ou a variação raspadura) é utilizado também na Argentina, na Guatemala e no Panamá e seu uso também é disseminado na Índia.

E antes que alguém se ofenda, em especial a comunidade nordestina, que é dona da bola (e com razão), já que são os maiores produtores e consumidores, vou logo dizendo que o hábito de adoçar o café com rapadura não é exclusividade mineira. Ele se repete nos estados onde houve uma cultura canavieira muito forte, mas é que lá em Minas Gerais, a gente que gosta de um “cafezim fortim e amarguim” não resiste a uma rapadurinha pra dar um gosto especial.

Há quem adoce depois de pronto, já na xícara, e vai dissolvendo aos poucos nele o pedacinho de rapadura. E há quem já ferva a água com a rapadura, como nesse vídeo direto de Pernambuco:

A rapadura antes ou depois tanto faz, o importante é esse cheirinho ritualístico invadindo a casa, seja pra começar o dia, pra molhar a prosa ou pra receber pessoas queridas.

Ah, e fica em Aquiraz, no Ceará, o Museu da Rapadura, viu?! Passando por lá, vale a visita ou ao menos uma parada pra um cafezinho… com rapadura, é claro!

para ouvir

por
marina novaes

 

Música pra café coado com rapadura em Minas gerais: