Cozinha da Matilde

Vitrolinha – Los Hermanos e uma amiga hermana

Amig@s,

Marinit’s (Marina Novaes) publicou semana passada um texto fofo sobre o Pixies. Ela gostou da brincadeira e daqui prá frente, além das harmonizações, ela também vai ter uma coluna fixa aqui no blog às sextas, chamada Vitrolinha! E a gente se dá bem com uma set list deliciosa todas as sextas para embalar o finde! :) beijocas, bom fim de semana, Letícia

Los Hermanos e uma amiga hermana

Entre meus amigos e amigas, a banda Los Hemanos nunca foi uma unanimidade. Na verdade eu mesma resisti para começar a ouvi-los sem torcer o nariz, por conta do hit Anna Julia. Mas esse pé que tenho no indie rock, e essas letras super cheias de sentimentos me pegaram em cheio.

Lá pelos idos de 2006, todas as quartas, eu encontrava a Maysa no Filial (ou no Genésio, gostávamos de variar), depois da minha aula de yoga. Até então, ela era uma conhecida, mulher de um amigo do Will, que tinha vontade de conhecer o meu trabalho porque ela mesma estava começando um projeto incrível com mulheres.

Mas entre um chopp e um bolinho de arroz, cumplicidades, desabafos, afetividades foram nascendo. E para coroar, descobrimos que as músicas daqueles barbudos cariocas estavam entre as mais tocadas do nosso set list.

Pronto, foi o que bastou para virar o “nosso” apelido. A gente só se chama de Hermana. Mas o fato é que levamos a sério a tradução da palavra espanhola e ela é minha irmã mesmo, daquelas de amor incondicional. A gente não se fala, nem se vê sempre, mas a gente sabe o que a outra está passando só de ouvir um “alô” no telefone.

Em 2007 o Los Hermanos anunciou o seu fim. Reuniram-se novamente algumas vezes, inclusive para abrir o show do Radiohead, e em 2012 anunciaram uma super turnê. “Hermana, temos que ir” disse para a Maysa, que animou na hora com o meu fogo de palha. Mas não nos mobilizamos para comprar os ingressos que evaporaram em horas.

Eis que no dia 30 de maio, minha querida prima Marília me ofereceu o ingresso do namorado dela, que não podia mais ir ao show, no dia 31. Corri para contar para a Maysa, que também tinha conseguido o ingresso para aquele dia! Eba!

Nos achamos minutos antes de apagarem – se as luzes e eles começarem a tocar O Vencedor. O Espaço das Américas inteiro com os braços para cima gritando “Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração”.

Na seqüência veio  Retrato pra Iaiá (Deixa ser. Como será quando a gente se encontrar?), Todo carnaval tem seu fim e Além do que se vê. A gente vira para a outra e a Maysa levanta sua sobrancelha e com um sorriso diz: “ Hermana, a gente esta juntas no show do Los Hermanos!”

Dei um abração nela e começou a tocar O vento, uma das minhas preferidas. Minha, do show inteiro, e de uma outra amiga, que se apaixonou por um cara só porque ao dizer “Não te dizer o que eu penso” ele completou a frase com: “Já é pensar em dizer”.

Aí veio Morena, Um par e Casa pré-fabricada. Essa última é a música que o Chico, filho da Maysa pede para ela cantar na hora de dormir. “Mãe canta a musica do abre os armários?”


E seguiu Do sétimo andarAzedumeDescoberta, Onze diasSentimentalA florCara estranhoCondicional, De onde vem a calmaPrimeiro andarA outra. E a gente, no meio daquele karaokê de milhares de pessoas de olhos fechados cantando todas as músicas de cor, chorando emocionada, percebeu que precisamos de muito feijão para sermos tão fãs assim.

E é incrível, como uma banda que entrou em recesso, continua crescendo. E ainda não veio nenhuma outra que os superasse. Será que era por isso que rolava essa felicidade coletiva, como se fosse realmente a última vez que eles iam tocar juntos?

Não sei, mas começou a tocar Deixa o verão e me empolguei de um jeito que o cara da frente até me tirou para dançar. Ou pular, melhor dizendo.


Depois de Mais uma canção, uma música nova do Rodrigo Amante Um milhão e O velho e o moço, foi Conversa de botas batidas. E nessa fiquei arrepiada. Todo mundo cantando na mesma cadência, sem aumentar o  tom, como se fosse ensaiado, pessoas cantando abraçadas e se olhando nos olhos na parte: “Diz, quem é maior que o amor?/Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora/ Vem, vamos além/Vão dizer, que a vida é passageira/Sem notar que a nossa estrela vai cair”.

 Último romance foi a última antes do bis, que seguiu com Adeus você, Tenha dó, Anna Júlia (Surpresa! Que foi super legal!), Quem sabe e Pierrot, para alegria da minha prima. 

Confesso que durante o show pensei que já estava velha, que não agüentava mais duas horas de pé, etc etc, mas foi um show que marcou. Fiquei pensando nele uns três dias, ouvindo as músicas sem parar, contando para todo mundo. E é isso, eu gosto da banda, mas além das músicas, gosto dessa postura (de marketing ou não, vai saber) de começar sem pretensão, estourar nacionalmente, parar tudo, recomeçar indepentende, não ter nenhum megahit, serem idolatrados por homens e mulheres, e do nada pararem de tocar juntos.

E para finalizar, no clima comoção geral, Maysa vira pra mim e pergunta:

“Hermana, você prefere as músicas cantadas pelo Marcelo Camelo ou Rodrigo Amarante?”

Eu: “o Amarante”.

Ela: “Hmm, eu prefiro o Camelo.” Faz uma pausa e continuou: “Que bom, assim a gente não briga!”.