Cozinha da Matilde

Na Cabeceira 21 – Estômago (Brasil, 2010)

imprensa_cartaz_1Estômago – Brasil, 2010
Dir. Marcos Jorge

Já devo ter assistido umas 5 vezes, também pudera, além de ter o centro de Sampa como pano de fundo e várias cenas feitas no Mercado Municipal da Cantareira, traz juntinho dois assuntos que me são muito familiares: comida e prisão (para quem não sabe, em minha vida pregressa fui advogada e já visitei muita prisão).

A história se passa em dois momentos distintos: o presente, com o protagonista preso e aprendendo a decodificar a vida na prisão, e o passado, em que a gente descobre como foi que um sujeito boa praça e bom cozinheiro como Raimundo Nonato, o Alecrim, personagem do João Miguel, foi parar no xilindró.

É muito bacana acompanhar o processo de refinamento da comida dele, que chega em Sampa faminto, vindo do nordeste, e acaba trabalhando em um restaurante bacana onde tem como tutor um apaixonado por comida que lhe ensina todos os segredos.

Mas a parte que eu gostei mesmo foi a da prisão. O filme é um Carandiru visto da cozinha, e essa foi uma grande sacada na minha opinião. Evoluímos e criamos tanto como espécie que acabamos nos esquecendo que tudo começou com a luta por comida para sobreviver. A comida foi a nossa primeira moeda e consequentemente poder na mão de quem a detinha. E por que eu estou falando tudo isso? Porque em momentos de adversidade e escassez como a prisão, a comida volta a significar poder e a ser moeda forte. Quem a detém (cozinheiros e fornecedores de produtos) tem status e poder.

Raimundo Nonato, nosso personagem, descobre isso rapidinho, e eu não vou falar mais nada porque a surpresa é um dos pontos altos do filme. Se você ainda não assistiu, não perca, é um filé mignon! :)