Cozinha da Matilde

Dia do Rock, Tom e Pixies – por Marina Novaes

Minha banda preferida é o Pixies. Eles tiveram uma curta existência (1986-1993) para o tanto que influenciaram o rock. Inclusive Kurt Cobain disse que tudo o que ele queria era ter uma banda que soasse como a banda de Massachussets.

Eu, quando morei lá, lembro que eles eram super cultuados, mas nessa época todas as músicas que eu ouvia eu dizia que era a minha música preferida, ou seja eu vivia empolgada, tudo era incrível.

De volta ao Brasil, eu comecei a freqüentar uma festa super legal, (pensando bem: uma festa estranha com gente esquisita) em um lugar chamado DJ Club. O DJ do sábado era o Kid Vinil. E na primeira vez que fui, ele tocou Pixies a noite inteirinha. De Bone Machine, até La La Love You. No dia seguinte baixei umas músicas no Áudio Galaxy (estou denunciando a minha idade?), e gravei escondido um CD lá no meu trabalho, pois pra ver como sou velha, só um computador do NEV/USP gravava CD.

Até que o meu primo Rômulo veio um final de semana me visitar em SP e fomos comprar CD na Velvet, na galeria 24 de Maio. Ele comprou o Surfer Rosa, segundo álbum da banda. Passamos os dois dias só ouvindo este CD, no volume máximo, dançando, andando pela cidade, berrando com River Euphrates, tentando adivinhar o que eles diziam em espanhol em Vamos… Fiquei alucinada, “como um rock tão pesado pode ser tão melódico, com essas nuances de surf music e punk?”. E a formação da banda incluía uma mulher! Baixista!

Acho que passei um bom tempo ouvindo um dos 5 álbuns de estúdio e 3 compilações por dia. Até que em 2004 eles resolveram se juntar e sair em turnê, que incluía o Brasil. Escolheram Curitiba sei lá porque cargas d’agua. Eu ainda namorava o Will e morava numa república. Um dos caras que morava comigo (Tiago cadê você?) por um milagre conseguiu comprar os ingressos que acabou em minutos e lá fomos nós para a Pedreira Paulo Leminski. Recortei uma charge do Adão, sobre o show que tenho até hoje na minha geladeira.

Eis que hoje sou uma trintona com um filho de um ano e 5 meses, e com tantas expectativas e vontades para explorar esse lado materno. Mas aconteceu um fato que eu nunca em meus sonhos imaginei.

Aproveitando um dia ensolarado de inverno, no feriado paulista, decidimos sair para almoçar, depois de o Will e eu terminarmos um duelo de DJs. Antes de ir me trocar coloquei a coletânea Death to the Pixies (1997).   

Logo na primeira faixa, a instrumental Cecilia Ann, fui no ritmo da música escovar os dentes. O Tomzinho foi atrás de mim no banheiro e ficou me vendo dançar na frente dele.

Planet of sound veio na seqüência, com um super riff de guitarra contando a história de um ET que busca a origem do rock. No refrão, comecei a balançar a minha cabeça e o Tom foi me imitando, e rindo.

E fomos para o quarto enquanto começava Tame, que tem uma pegada suavezinha no começo, mas quando chega no refrão é pesadona e bem nessa hora o Tom ergueu os braços para eu pegá-lo no colo e continuou a balançar a cabeça, com os bracinhos levantados, enquanto eu pulava.

Cansada, e precisando me arrumar, começa a baladinha Here Comes Your Man, que eu torço o nariz um pouquinho, e o Will me enche o saco dizendo que é a música mais legal do Pixies. “Tom vai dançar essa com o papai, enquanto a mamãe se troca.” Consegui colocar só a blusa, e ele foi pro quarto com o bracinho indicando que queria colo. E ficamos dançando juntinhos.

Aí começou Debaser, e o negócio esquentou. A letra, imagine, é baseada num filme do Buñel e Salvador Dali  Un chien andalou. O Tom que já tava no colo, continuou, mas começou a fazer um aaaa aaaa aaaa com a boca encostada no meu ombro. E na hora que o Francis Black dizia Un chien andalou eu levantava e abaixava ele que balançava a cabecinha. Aí na parte da música que tem uma risada macabra eu dava uma chacoalhadinha nele e ele gargalhava.

Na sequencia veio Wave of Mutilation, e eu aproveitei para dar uma sentada, porque meu filhinho tem 13 quilos. E comecei a fazer a coreografia com ele sentado, pegando a sua mão e imitando a onda no mar. Ele gostou até uma certa parte, pois saiu do meu colo, se virou pra mim e ficou me puxando pra cima. Fiquei de pé, e ele pediu colo. Waaaaave waaaave

Cansei. Dig for Fire começou e tentei uma dancinha separada porque essa música tem um balancinho. Ele pegou minhas duas mãos e me acompanhou, mas logo pediu colo, e com um dedinho na boca ficou emitindo uns sonzinhos.

Caribou  foi a próxima fui tentar por a minha calça, e o Tom foi atrás. Consegui vestir, com ele me puxando de volta pra sala. Eu falava “Will isso está acontecendo mesmo?” E ele começou a nos apressar para sair e eu retruquei “espera que está acontecendo a melhor parte do dia. Eu nunca vou esquecer isso”, piegamente eu falava.

Depois com Holiday Song, as coisas agitaram de novo, e fui seguindo o ritmo, e na hora do refrão “This ain’t no Holiday/But it always turns out this way/Here I am, with my hand”, ele no meu colo e nós dois pulando.

Nimrod’s son é outra agitadinha com momentos mais calmos. E a gargalhada vinha em todas as partes. Nisso eu já tinha feito um super malabarismo para por o tênis.

Como já precisávamos ir embora aí já pulei para a faixa 13, Gigantic, cantada pela Kim Deal. Começa devagarzinho, depois ela vai aumentando: “hey paul, hey paul, hey paul let’s have a ball” até chegar no “gigantic, gigantic, gigantic a big big Love” e o tomzinho me acompanhando com o aaaa aaaa dele.

E assim que acabou ele bateu palminhas!

Dormiu no caminho para o Valadares e só acordou quando a gente já estava na segunda cerveja. Aí ele ficou interessado em ver o chapeiro fazer isca de contra filé acebolada. Mas aí já é outra história.

Feliz dia do Rock!