Trivial brazuca 1 – Como fazer arroz branco soltinho de duas maneiras
Arroz, feijão, bife e ovo frito, uma saladinha ou um refogadinho ou batata frita prá acompanhar. Esse é o nosso trivial, a comida presente em quase todas as mesas brasileiras no dia a dia. A base de nossa alimentação, “a sustânça”, o que mantém o saco de pé, o PF nosso de todo dia, servido em casa, no boteco, na padaria e até em restôs chicosos com roupagem cheia de salamaleques.
A saudade gustativa mais forte quando estamos longe de casa. Nada conforta mais um coração brazuca, nenhuma comida consegue ser tão afetiva como feijão com arroz ou arroz com feijão.
É comida do dia a dia, mas em que pese o senso comum de que qualquer um sabe fazer, não significa que seja fácil. Não é difícil também, mas requer técnica, em especial se vc quer soltar tudo juntinho no tempo e pontos certos.
Costumo dizer que quem sabe fazer o nosso trivial sabe, de fato, cozinhar. Mas isso não quer dizer que você precisa ficar com medo de enfrentar a parada, com as dicas e macetes de cozinheira que vou dar nessa série, garanto que você vai arrasar no PF! Afinal de contas, estamos aqui prá isso, né mesmo?
E foi assim, pensando nisso, que marquei essa deliciosa sessão com a Flavita Valsani, que queria aprender a fritar ovos, passar bife e fazer arroz e feijão. Enquanto eu cozinhava e explicava, ela clicava. E prá variar, como tudo que a Flavita bota os olhos, ficou lindo.
E é tanto material, que virou série: hoje você aprende duas maneiras diferentes de fazer arroz e nos próximos posts da série aprende feijão, ovo frito e passar bife… e aí já pode bater no peito: Sim, eu sei cozinhar! :)
Já que cozinhar é preciso como navegar, bora aprender a técnica prá fazer arroz soltinho?
técnica de cozinha
Como fazer arroz de duas maneiras
Eu sempre digo que fazer arroz é como ter uma religião. Cada um tem a sua e se você está feliz com ela, continue fiel. Assim é com a técnica de preparar arroz, tem gente que coloca água fria, tem gente que usa quente, tem quem coloca muita água, tem que faça em fogo alto, outros em fogo baixo, cada um tem sua hora de tampar a panela… tem quem não deixa mexer, quem goste de rapa dourada… enfim… o que quero dizer é: se você tem a sua maneira de fazer e ela dá certo, o arroz fica ao seu gosto, continue fazendo desta maneira, seja fiel ao seu modo de preparo.
O que vou ensinar aqui é a minha maneira de fazer, que aprendi com minha avó. E ainda vou ensinar uma outra maneira de fazer, muito mais simples, sem erro. São portanto, duas técnicas diferente de fazer arroz: Pilaf e Cozido em água e salteado.
Arroz Pilaf
Provavelmente você nunca ouviu a palavra pilaf, mas garanto que já comeu inúmeras vezes.
Pilaf é o nome da técnica usada para fazer o arroz soltinho, refogadinho, aquele que a gente come no dia a dia. O nome vem do oriente médio e se refere ao arroz que é previamente aquecido em gordura com algum aromático (cebola, alho, canela, cardamomo…) e depois cozido em liquido (água ou caldo), resultando em grãos soltinhos e não em uma papa. Essa técnica também é usada para outros grãos, mas vou me restringir ao arroz branco nosso de cada dia! :)
Vamos ao passo a passo?
Esse meu modo de fazer se refere a 3 xícaras de arroz (6 porções aproximadamente) e o resultado é um arroz soltinho e ao dente. Para aqueles que gostam de arroz mais cozido e um pouco empapadinho, basta colocar mais água!
1- Lave bem o arroz, retire toda a goma. Deixe escorrer o excesso de líquido.
2- Em uma panela de fundo grosso sue 3 colheres de sopa de alho amassado, em 3 colheres de azeite de oliva ou óleo, e uma pitada generosa de sal – tem gente que faz com cebola, tem quem faça com cebola e alho – eu faço só com alho!
DICA/SEGREDINHO: eu junto aqui alguns dentes de alho inteiros, com casca. Eles vão cozinhar no meio do arroz e ao fim ficarão adocicados e cremosos, uma delícia para gente espremer e comer junto com o arroz quentinho…
3- Junte o arroz ao alho e misture bem, deixando que todos os grãos aqueçam e fiquem transparentes.
4- Acrescente água fria até cobrir o volume de arroz em um dedo.
5- Experimente o sal, se necessário ajuste. Mantenha a panela em fogo alto e destampada, deixe ferver.
6- Deixe que o líquido reduza até aparecerem os furinhos de calor.
7- Tampe a panela deixando apenas uma frestinha aberta, abaixe o fogo ao mínimo e, se tiver, coloque sob a panela uma chapinha de alumínio, para diminuir ainda mais a potência do fogo. Assim o arroz vai chegar ao ponto certo sem queimar o fundo da panela.
Arroz cozido em líquido e salteado
E prá quem se sentiu intimidado pelo Pilaf, esse técnica aqui é infalível!!!! É o truque que te faz acertar sempre no arroz.
A idéia é cozinhar o danado em muita água como se fosse uma macarrão, apenas até ficar ao dente, escorrer e aí saltear com algum aromático da sua escolha, que pode ser o alho com azeite bem tradicional como no Pilaf, ou você pode inovar e inventar o que te der na telha.
(e inclusive fazer um arroz frito thai sensacional, como este aqui que fiz pro UOL)
E se você não quiser, nem precisa saltear o arroz com algum aromático, pode comê-lo assim: puro. Aliás, no oriente é assim que comem o arroz, muitas vezes sem sal, de maneira a enaltecer seu sabor delicado, seu perfume e a textura dos grãos. O arroz é a base da alimentação de lá e por isso considerado um alimento sagrado.
Inclusive, tanto nosso agulhinha com os arrozes thai jasmim e o basmati (muitos comuns no sudeste asiático e na índia) são da mesma categoria, dos grãos longos, com menos amido. Diferente dos de grãos curtos como o cateto (japonês), o carnaroli ou o arbório, todos com muito mais amido que as espécies longas e, portanto, perfeitos para risotos ou sushis.
Segue o passo a passo da técnica e em seguida uma receita bacaninha e muito simples, a partir dela.
1- Lave bem o arroz, até tirar toda a goma.
2- Ferva água em abundância em uma panela grande – eu sempre uso a espagueteira, a não ser que vá fazer uma porção pequena, aí uso uma panelinha menor e escorro na peneira.
3 – Acrescente sal e as ervas aromáticas ou especiarias de sua preferência – eu usei tomilho limão da horta, que adoro!
4- Junte o arroz e deixe que cozinhe em fogo alto até ficar ao dente (cerca de 10 minutos).
5- Escorra e então salteie com os aromáticos e ingredientes de sua preferência.
receita
Ingredientes
Uma vez que você aprendeu a técnica, pode saltear o arroz com o que quiser. Essa receitinha aqui é muiiiito básica, apenas para você ir pegando o jeito. Eu usei salsinha e tomilho que estavam frescos na horta, você pode usar as ervinhas que quiser.
Outra coisa bacana de acrescentar é alguma fruta seca (uva passa, figos, damascos) ou castanhas (Pará, nozes, amêndoas, pistaches).
Enfim, use a sua criatividade, e eu prometo publicar algumas receitas clássicas aqui de casa, já que sou super adepta de fazer o arroz assim, é rapidim e salva em dias de pouco tempo: enquanto o arroz cozinha dou um limpa na geladeira para saltear junto e voilá, temos um prato incrível!!
- 3 xícaras (chá) de arroz agulhinha (ou basmati ou thai jasmine) cozido em água
- 1 colher (sopa) de alho brunoise (cubos mínimos)
- 2 colheres (sopa) manteiga sem sal
- 3 colheres (sopa) de salsinha laminada
- 3 colheres (sopa) de pimenta dedo de moça sem semente laminada
- 3 colheres (sopa) de folhas de tomilho
Modo de Fazer
Sue o alho na manteiga.
Acrescente o arroz, as ervinhas e a pimenta. Salteie bem até misturar tudo.
Ajuste o sal.
Bom apetite e semana que vem é a vez do feijão com e sem panela de pressão!
Harmoniza com…
(hoje a harmonização é só da Marina, Marcelo volta quando PF ficar pronto, com todos os elementos, prá dizer que bebida mais combina com o trivial brazuca.)
para ouvir
por
marina novaes
Minha mãe falava que quando eu era pequena, tive uma fase “arroz”, e só isso que eu comia. O jeito foi improvisar com cores diferentes: vermelho – com tomate, amarelo – com ovo, verde – com brócolis… este momento passou, mas os grãos branquinhos nunca saíram do meu prato. Inclusive a tia Carmem falava que eu ia virar japonesa de tanto que comia arroz.
Para harmonizar com este legítimo trivial brazuca, escolhi o Nine of Ten, do Caetano Veloso. O baiano, como é sabido, foi se exilar em Londres. Lá gravou discos como o Caetano Veloso 1971, que tem London London e o Transa, que configura em todas as listas de melhores álbuns brasileiros da história. Provavelmente enquanto descia a Portobello Road ao som do reggae, ele sentia falta de um arrozinho, afinal nove entre dez brasileir@s comem arroz!
Acho que a vontade de virar japonesa era da minha família toda, tanto que na casa da minha mãe a gente tinha uma daquelas panelas de fazer gohan. Era delícia. Mas, quando fui morar sozinha, sofri para acertar no arroz. Nunca dava certo. Até que compartilhei isso com a Let, que me ensinou a fazer o pilaf e…. buuuum, minha vida mudou. Me achei a mestre cuca, e agora sempre me prontifico a fazer o arroz. Simples, fácil e sucesso. Como Kiss on the List, este hit dos anos 80 da dupla Hall & Oates.
Para combinar com o arroz salteado com ervas aromáticas – o trivial com um toque especial – um dos preferidos da casa: Venus, releitura do Shocking Blue que o Wilson das Neves fez cheio de suingue, e que está no discaço “Samba – Tropi”.
Ajuste o volume!