Cozinha da Matilde

Alter do Chão outra vez e Salada de lâminas de abóbora com raspas de limão

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No fim do ano fui novamente para Alter do Chão à convite da Maria Teresa (a Fofa!), da Turismo Consciente, mas desta vez para fazer a comida do reveillon organizado por ela e com o DJ Tutu Moraes, da Festa Santo Forte  no comando das pick’ups.

Foi uma festa linda, em uma ponta de praia do Rio Tapajós com areia branca, o céu mais lindo do mundo sobre nossas cabeças e lua cheia para iluminar a noite. Coisas que apenas Fofa sabe fazer. Produção impecável, deixou todo mundo de boca aberta (muita gente com lágrimas nos olhos!), faltou apenas o Tatu correndo pela praia e gritando: Patrão, patrão, um avião!

Dançamos até o dia amanhecer entre amigos queridos, ao som de um set list sensacional do Tutu, com pausas para banhos de rio e para esticar o corpo na areia. Mágica pura. Uma maneira deliciosa de começar um novo ano.

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Como sempre, Alter me transporta no tempo para a época em que vivi em Tocantins. E eu fico sempre tocada com essa viagem para minha infância, com esse grande reencontro comigo mesma e muito desta emoção está ligada aos aromas e sabores locais, que são muito parecidos.

Como eu já disse no outro post que escrevi sobre esse pequeno vilarejo de pescadores do município de Santarém (com a receita do Bolinho de Piracuí), as frutas locais são uma história à parte, pura memória afetiva prá mim, e o mais legal é reencontrar várias que eu adorava e ainda rever algumas que eu nem me lembrava mais.

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Estão todas lá, basta uma volta pela cidade observando árvores, quintais, a borda da praia, para encontrá-las. Da outra ida, os cajus estavam em plena temporada (tanto que servi com flor de sal no casamento) e os jambeiros carregados de frutos encarnados por fora e polpa com textura de algodão, lindos e perfumados e que quando estão floridos cobrem o chão com um tapete rosa (que eu costumava chamar de neve brasileira, por conta do pé que tínhamos no quintal de casa).

Desta vez a cidade toda cheirava a murici, esse frutinho amarelo delicioso, levemente ácido, com sabor forte que muita gente acha que tem gosto de queijo. Os araçás estavam com os galhos vergados de tantos frutos. Quase tive overdose dos dois e Marcelo precisava me arrancar debaixo dos pés carregados.

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Quando não estava comendo a fruta in natura estava comendo os doces delas, feitos pelas doceiras locais, ou ainda me refestelando com as mesmas frutas nos sorvetes da Nido (o mesmo que servimos na festa), que era o ponto de encontro da turma toda no fins de tarde, para encontrar os amigos e assistir ao pôr do sol no Tapajós.

Das frutas mais diferentes, adorei reencontrar Uxi que eu nem sabia mais o nome. Apenas me lembrava da frutinha verde de polpa massuda que soltava com o dedo, que tinha aos montões na fazenda da minha família. Topei com um pé na beira do rio com alguns frutos maduros no chão e logo alguém me lembrou o nome. E foi legal experimentar novamente. Desta vez achei que o sabor remetia ao abacate e foi uma pena que a maioria dos frutos estivessem verdes, fiquei louca para fazer um molho ou uma pastinha no estilo guacamole. Fica para uma próxima.

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O fato é que durante esses dias voltei a ser criança. Subi em árvores, pulei muros, passei por cercas de arame farpado e ainda derrubei frutas à pedrada (era boa nisso quando criança!) tudo para sentir outra vez aqueles sabores quase esquecidos e com eles voltar no tempo, desviver para trás como diria o Guimarães Rosa.

Mas a festa ficou mesmo completa com a ida ao Mercado Municipal de Santarém para compras, eu, a Larissa e o Gustavo (ajuda luxuosa que tive para o trabalho) piramos com os produtos locais.

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Foi uma perguntação que não acabava mais, fizemos amigos, como a família da Adrielly e seus pais Antonio e Naza, ganhamos beijos do William, experimentamos tudo o que foi possível e se não estivéssemos à trabalho, com certeza teríamos testado várias receitas com as preciosidades que encontramos lá, como a sapucaia, fruto lindo, uma espécie de cuia (que depois vira enfeite de casa), cheio de deliciosas castanhas e que também tinha aos montes em Tocantins.

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Isso sem falar nas farinhas, no tucupi de primeira qualidade, jambú, pimenta de cheiro e os peixes da amazônia como o  pirarucú, tambaqui, pacú manteiga, tucunaré, todos com sabor intenso e muita gordura. Sustança na medida.

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Não é a toa que chamam a Amazônia de paraíso. Além da exuberância da paisagem, dos rios e da natureza como um todo, na parte que me cabe, a comida, acho difícil encontrar um repertório tão vasto de sabores e aromas. Tudo é exuberante, vibrante, quente como a temperatura local. Sabores diferentes, inusitados, fora de qualquer padrão de comparação.

Um mundo a se descobrir e experimentar, inúmeras possibilidades de combinação, de modos de fazer… um paraíso de fato para quem gosta de comer e cozinhar. Recomendo!

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A receita de hoje é uma das que fiz para o reveillon, uma salada super refrescante com lâminas de abóbora temperadas com raspinhas de limão, que foi servida junto outra salada, de lentilha com pimenta (prá entrar o ano com sorte), como acompanhamento para a piracaia (churrasco de peixes, feito na praia) que o Júlio, cozinheiro local, fez para a festa.

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Tanto no casamento que fiz em 2011, como agora no reveillon, pensei em um menu todo elaborado com produtos locais, como não podia deixar de ser. E embora eu soubesse o que queria fazer também deixei alguns preparos para fechar na visita ao Mercado. Para companhar os peixes fiz um chutney de pimenta de cheiro, outro de banana, um vinagrete de abacaxi e ainda um pesto de coentro com castanhas do Pará super frescas, recém tiradas da casca e cheias de leite, que ficou super aromático e casou muito bem com o bolinho de piracuí servido de petisco.

Mas a sensação mesmo foram essas lâminas ultra geladas e aromáticas de abóbora, que muita gente veio me perguntar como fazia e que agora compartilho aqui com vocês. Uma receita muito simples de fazer e que é perfeita para dias quentes de verão e que é um super acompanhamento para carnes e peixes (mas que também são deliciosas puras).

Ingredientes – 4 porções

  • 1/2 abóbora cabotiá cortada em lâminas de aproximadamente 0,5 cm (o importante aqui é manter o padrão para cozinharem por igual) – Lá eu usei uma abóbora local, mas por aqui sempre faço com cabotiá.
  • 1 colher (sopa) de salsinha finamente fatiada
  • 1/2 xícara de cebolinha verde fatiada (eu adoro cortar na diagonal porque fica linda!)
  • raspas de um limão
  • suco de 1/2 limão
  • 4 colheres de azeite extra virgem
  • Sal, flor de sal e pimenta do reino moída na hora à gosto

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Modo de fazer

Ferva água em uma panela com um pouco de sal. Acrescente as lâminas de abóbora e cozinhe ate ficarem ao dente – aproximadamente dois minutos – as lâminas devem ficar maleáveis, não molengas e devem ter sabor de cozidas. Se passar do ponto, elas desmancham.

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Retire do fogo, escorra e então mergulhe-as imediatamente em uma tigela com água e gelo para que tomem um choque térmico. Isso vai fazer com que fiquem quase crocantes, no ponto perfeito! Escorra bem (deixe descansar um pouco no escorredor ou peneira para garantir!).

Em uma tigela misture o azeite, o suco e as raspas de limão, a salsinha, sal e pimenta do reino. Junte as laminas de abóbora, misture com delicadeza para não quebrarem. Ajuste o sal.

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Monte em uma travessa polvilhada com a cebolinha verde.

Bom apetite!

 Harmoniza com… por Marcelo Pedro (No Copo) e Marina Novaes (Na Pick’up)…

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Alter do Chão, as praias do Tapajós, o calor, tudo isso pede uma cerveja bem gelada! E na super festa de réveillon da Fofa, da Turismo consciente, cerveja boa não faltava.

E claro que eram cervejas paraenses, a Cerpa Export, a cerpinha e a Tijuca, todas da cervejaria paraense. A Cerpa já era minha velha conhecida, uma pilsen premium, feita com ingredientes de primeira qualidade. Tem um tom dourado, boa carbonatação, lúpulo na medida, mais encorpada que as pilsen mais batidas.

Já a Tijuca é uma pilsen super levinha, refrescante, perfeita pro calor amazônico. É inspirada no Rio de Janeiro, e tem um lindo rótulo azul e branco, como as cores da bandeira fluminense. Parece até um estandarte de escola de samba! Saúde!

selos_032A primeira vez que ouvi falar de Alter do Chao foi em um destes programas da TV a cabo apresentado por um ator global, que você fica morrendo de raiva porque poderia ter sido bem mais legal.

Quando a Let disse pela primeira vez que ia para lá trabalhar, fiquei super feliz e orgulhosa e quando ela disse que ia DE NOVO, e com o Má, fiquei super ultra feliz (e com inveja! – saudável!). E se dá primeira vez quem tocou foi o Felipe Cordeiro, na segunda foi o querido Tutu, quase o quinto morador da minha república de 2004, a Navarro de Andrade, que já animava as nossas festinhas, e que agora é o SUPER DJ Tutu Moraes.

Enfim, este post é de fato um ativador de memória afetiva, e lembrei da primeira vez que fui para o Pará, no Fórum Social Mundial de 2009. Como nestes encontros as baladas também fazem parte do trabalho, tomando uma Cerpa no Ver o Peso, ouvi uma música que combinava demais com aquele momento e também com esta receita.

Americana, do Solano e seu Conjunto. É um brega gostoso e ao mesmo tempo tem um significado político recheado de uma coisa amorosa. Imagina, a letra diz: “Ela é americana da América do Sul” a gente no clima “um outro mundo é possível” achou o máximo, porque somos todos americanos, né?

Depois descobri que ela é super famosa lá no Norte e Nordeste, a gente perde muita coisa bacana neste eixo Rio-São Paulo.

Há várias gravações da música, mas as que tenho aqui em casa são a do La Pupuña, uma banda paraense de guitarrada que eu adoro.

e a do Arnaldo Antunes que ele gravou no disco “Ao vivo Lá em Casa” e é uma delícia: